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Expedição Brasil Central

Fotos: Leandro de Santis/Kodak
Texto: Leandro de Santis

Nesta aventura você irá embarcar em Beethoven, um Jeep Willys Overland 1960, e percorrerá mais de 7.000km através de cinco estados e do Distrito Federal.

A Expedição Brasil Central teve como objetivo principal registrar as belezas de quatro Parques Nacionais, um deles, o Parque Nacional da Serra das Confusões que foi criado há pouco mais de um ano, é totalmente inóspito e além de abrigar uma paisagem única, os amantes do "off-road" vão encontrar por lá trilhas em que a adrenalina e o forte batimento cardíaco são uma constante durante todo o trajeto. O grupo também conheceu a Estação Ecológica de Águas Emendadas em Planaltina (DF), uma região que somente é possível conhecer com uma autorização especial.

Três amigos: Leandro, Marcello e Emerson resolveram encarar o desafio para provar que pessoas comuns poderiam fazer um trabalho como esse obtendo um resultado digno das melhores expedições já realizadas e que contaram com grandes patrocinadores.

A Aventura:

Tivemos um ano de preparação: do veículo, equipamentos, planejamento da viajem e escolha do percurso. Mesmo com todo este tempo, durante a viagem muita coisa não sai como o planejado. Nunca a frase "superar e adaptar" fez tanto sentido para nós.

Durante um trabalho como este tudo pode acontecer, qualquer coisa pode falhar, menos a sua mente, que deve estar sempre atenta, o menor descuido pode arruinar todo o projeto.

A união da equipe foi o fator que mais contribuiu para o nosso sucesso, cada um teve que superar as diferenças entre si e transformá-las em perseverança.Todos tinham uma função específica e de extrema responsabilidade: Marcello foi responsável pelo nosso site na Internet que era atualizado diariamente, Emerson foi o navegador e não soltou o mapa um minuto sequer. E eu, Leandro, fui o piloto, além de ser responsável pelo registro fotográfico e o diário de bordo, mas as tarefas básicas foram divididas igualmente entre todos nós.

Partimos no dia 27 de Dezembro de 99 e atravessamos, além de São Paulo, os Estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Piauí e também o Distrito Federal. Cidades como Ribeirão Preto (SP), Uberaba e Uberlândia (MG), Catalão e Alto Paraíso (GO), Barreiras (BA), Corrente e São Raimundo Nonato (PI) e a Capital Brasília, fizeram parte do nosso trajeto. Como pontos de destaque estavam o Parque Nacional de Brasília (DF), Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), Parque Nacional da Serra das Confusões (PI) e a Estação Ecológica de Águas Emendadas (DF).

Dentre todo o percurso, mais de 1.000 km foram em estradas, muitas delas chamadas de Rodovias Federais, que não ofereciam as mínimas condições de dirigibilidade e cerca de metade deste trajeto transpomos com o veículo com a tração 4x4 ligada todo o tempo. Podemos dar como exemplo um trecho de apenas 240km da BR-135 entre Barreiras (BA) e Corrente (PI), que no mapa consta como asfaltada, e que levamos 12 horas para percorrer.

O caminho a percorrer é duro, o sono é pouco, a fome é muita e a saudade de casa parece não ter fim, mas quando se está na estrada - que muitas vezes se tem que abrir com o quebra mato do Jeep - e você conclui uma etapa da expedição, a emoção toma conta de todos e em um passe de mágica toda a parte dura é compensada. O sentimento de realização é algo indescritível e é este sentimento que permite você continuar adiante.

Se deparar com inúmeros animais silvestres como na Estação Ecológica de Águas Emendadas (DF), ou os saltos e cachoeiras de mais de 100 metros de altura do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), ou as inscrições rupestres de 12.000 anos do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), ou percorrer os mais de 3km de uma gruta com 50 metros de altura e que foi escavada por um rio no Parque Nacional da Serra das Confusões (PI) e ainda ver as corredeiras de um rio subterrâneo através de buracos que se abrem no chão no Parque Nacional de Brasília (DF) certamente fez valer a pena todo e qualquer sacrifício.

Um Parque Nacional que merece destaque entre os demais visitados é o Parque Nacional da Serra das Confusões no Piauí que foi criado em Outubro de 1998. Este que é o mais novo e o maior Parque Nacional do nordeste brasileiro, com cerca de 503 mil hectares, não está aberto para a visitação pública, não possui as mínimas condições de infra-estrutura nem mesmo para garantir a sua preservação.

A sua cidade de apoio, Caracol (PI), possuí apenas uma humilde pousada onde se pode comer muito bem, mas isto é só o que se pode encontrar nesta pequena cidade. E para se chegar lá certamente você precisará de um veículo fora de estrada muito bem preparado, para enfrentar as péssimas condições de terreno. Para se chegar à Caracol a melhor opção é partir de São Raimundo Nonato, são 110km, aproximadamente, seis horas de viagem em uma estrada de terra muito irregular e cansativa. Chegando em Caracol são mais 16km para se chegar ao parque e este trecho normalmente não é feito a bordo de um veículo, mas sim em cavalos ou jumentos, ou até mesmo a pé. Se você quiser encarar estes 16km com seu veículo é bom estar bem preparado para fortes emoções e também se faz necessário boa experiência em guiar nestas condições. Nós só tivemos a certeza de estar no interior do parque, porque estávamos com as coordenadas de sua localização e fazíamos uso de um GPS (Global Position System), equipamento que lhe fornece com exatidão a sua localização em latitude e longitude.

Vencendo estas dificuldades, o que se encontra é uma imensa área verde tomada por formações rochosas arenosas (Serra das Confusões) que dão nome ao parque. Nitidamente pode-se verificar que um dia ali o oceano tomava conta.

O nome Serra das Confusões foi atribuído pelos exploradores portugueses que por ali passavam e confundiam a enorme cadeia de montanhas com um oceano, mas na verdade, o verdadeiro oceano que eles pensavam ser estava a muitos quilômetros de distância daquele ponto.

A vegetação do parque é singular em todo o nordeste. Devido à sua localização e ao clima pode-se além da Caatinga e do Cerrado (vegetações predominantes) encontrar também matas de galeria e até mesmo, vegetação típica de mata atlântica. Grandes porções destas vegetações encontram-se intocadas (virgem) devido às difíceis condições de acesso. A sua fauna que possui animais em extinção como a Onça Pintada, o Tamanduá Bandeira, o Tatu Canastra, além de diversas espécies de répteis e aves.

Existe apenas uma trilha que corta o parque e que foi escavada na rocha (manualmente) no início deste século por influência da Igreja Católica. A intenção era ligar as cidades de Caracol, Cristino Castro e Santa Luz para facilitar ao pároco local a realização das missas e também facilitar as comunicações entre estas cidades.

Tivemos a oportunidade de conversar com o diretor do parque o Sr. José Wilmington Paes Landin Ribeiro que se mostrou muito preocupado com a atual situação do parque. Atualmente o parque nem sequer possuí cercas demarcatórias o que facilita a invasão de posseiros. Também não possuí nenhum tipo de fiscalização. O que se percebe é que o Governo Federal criou o parque apenas para fazer notícia. Segundo o diretor, este ano deve ser liberado recursos para o início dos projetos. A única coisa que resta a fazer é aguardar para ver.

Dentre os pontos mais belos da região destaca-se a Gruta do Riacho dos Bois com mais 3km de extensão sob as formações rochosas de todo o conglomerado e que foi escavada na pedra pelo riacho do mesmo nome e possuí trechos internos com mais de 50 metros de altura.

Apesar de todas as dificuldades para se chegar até lá, foi uma experiência única, pois conseguimos encontrar uma imensa área de reserva ainda intacta. Só resta saber se o Governo Brasileiro irá cumprir com o papel de preservar este imenso paraíso do nordeste, ou se a criação do parque foi apenas mais um esquema político de propaganda enganosa.

Outro ponto de destaque em nossa expedição foi descobrir que o interior do Nordeste Brasileiro é palco de muitas surpresas. Todos que não conhecem esta região acham que irão encontrar apenas miséria, seca e um povo rude e ignorante. O que pudemos encontrar foi um povo humilde e trabalhador que carece de atenção do governo, mas que é sem dúvida um povo amigo, pois lhe oferece ajuda sem querer nada em troca. Pudemos encontrar virtudes nestas pessoas que jamais havíamos encontrado em nenhum habitante da cidade grande.

Se você pensa em realizar uma expedição, vá em frente! Mesmo sabendo que é duro o caminho a percorrer. Em uma experiência como esta, aprendemos em 20 dias o que levaríamos vinte anos de vida normal.

A nota triste em todo este trabalho é o fato de ter que deixar para trás lugares tão belos, cidades acolhedoras e principalmente os amigos verdadeiros que nós fizemos.

Esperamos que o Governo Brasileiro zele pela natureza de nosso país para que tenhamos no futuro, motivos para a realização de outras expedições como esta.

Vale lembrar que todo o nosso projeto jamais poderia ter se tornado realidade sem as pessoas que nele acreditaram e incentivaram. Nossos amigos, familiares e colaboradores. Agradecimentos especiais aos proprietários e/ou funcionários das empresas que nos patrocinaram e que se tornaram muito mais que amigos:

Kodak, Nautika, Calibre, Varga Serviços, Fast Signs, PSINet e Shopping SP Market.

Se você quiser saber mais sobre a Expedição Brasil Central visite o nosso site:
http://users.sti.com.br/brasilcentral ou pelo e-mail: leosantis@greco.com.br

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