O verdadeiro Off-Road nacional
Roberto Sukys
O ano: 1972. A inspiração: Transamazônica. Foi pensando nos
terrenos alagadiços da região amazônica que surgiu o projeto do primeiro
veículo anfíbio brasileiro, prontamente chamado de Trans-Am ou, mais
simplificadamente, Transa.
Chamá-lo
de anfíbio seria pouco, já que suas características seriam apropriadas para
qualquer tipo de terreno, não só água e terra firme, como se espera de um
anfíbio convencional, mas qualquer mistura destes dois
"ingredientes". Para tanto, o Transa era equipado com seis rodas
motrizes (configuração 6X6), suspensão independente para cada roda e dois
sistemas de direção, além de hélice náutica. Para transposição de
alagados e rios seria feito o uso da hélice, sendo o direcionamento do veículo
feito pelas rodas dianteiras e traseiras, através de volante convencional. Para
terrenos instáveis, o sistema de direção empregado é o mesmo dos tratores
onde, através de duas alavancas, é feito o freio das rodas do mesmo lado que
se pretende girar o veículo. Para direcionar o veículo em piso firme entra em
ação o outro sistema de direção, onde as rodas dianteiras giram em sentido
oposto às traseiras, permanecendo as centrais fixas. Além de evitar o arrasto
dos pneus em curvas, já que o entre-eixos do Transa era pequeno, este sistema
permitia um raio de giro extremamente pequeno, ideal para situações onde o
espaço de manobras é limitado.
Mesmo com todos estes predicados, o Transa ainda contava com
um guincho de acionamento mecânico, muito útil para "içar" o
veículo nas barrancas de rios. O único componente "de linha" era o
motor, um boxer VW de 1600cc, o que permitia ao Transa uma velocidade máxima de
80km/h na terra e 7 nós na água (aproximadamente 15km/h), isso com a capacidade
máxima de carga, que era de 500 kg mais quatro passageiros. A carroçaria
era constituída de uma estrutura tubular metálica revestida com fibra de
vidro, o que permitia leveza e resistência ao conjunto. Este sistema,
patenteado pelo idealizador do Transa com o nome de Plasteel, foi utilizado em
todos os outros veículos da marca.
Para quem ainda não adivinhou, estamos falando da Gurgel e
a foto ao lado, tirada nas antigas instalações no bairro do Bosque da
Saúde, em São Paulo, comprova a existência do protótipo, que só não foi
produzido em série por causa do custo proibitivo para os padrões da época.
Não fosse este "pequeno detalhe", o panorama do Off-Road nacional com
certeza seria outro.
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