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Parabéns, você acaba de descobrir que a vida dentro do escritório é um porre e se flagra várias vezes grudado com a cara na janela tentando sentir o vento no rosto, morrendo de vontade de enfiar o carro numa trilha radical, só para sentir o que é chafurdar na lama em grande estilo. Afinal, tem uns caras loucos por aí que fazem isso e saem felizes da vida...

Ser radical hoje virou moda, está em revistas e jornais. Quase todo proprietário de 4X4 quer ser chamado de “jipeiro”. Só tem um porém... muita gente sai despreparada, com o carro idem, fazendo tamanho estrago que depois é difícil consertar.

Por exemplo, quando for fazer sua primeira aventura fora-de-estrada, não se esqueça de preparar a sua cabeça: pare de pensar no eu sozinho.

É importante saber que o espírito de equipe rege o verdadeiro jipeiro. Trocar idéias, vencer os obstáculos com a ajuda dos companheiros, estar com a mente aberta e participar ativamente das decisões do grupo (para não xingar depois) fazem parte do curtir o off-road. Busque informações, converse com jipeiros mais experientes e convide-se para participar de uma trilha. Com certeza você será muito bem recebido.

Outra coisa: para quem pensa que ser jipeiro é ser radical e para isso basta ser “animaaal”, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Para virar jipeiro de verdade, precisa ter aquilo que nossos pais já cansaram de tanto falar: sim, é a bendita responsabilidade.

Ao encarar a trilha com o seu próprio 4X4, verifique os pneus, cheque o combustível, a água do radiador, os óleos e demais lubrificantes, se os freios estão em ordem. Também tenha à mão algumas ferramentas básicas (tipo chaves-de-fenda, de roda, martelo, etc.) e esteja pronto para não chorar por qualquer arranhão na pintura. Muito menos por amassados na lataria. Esse negócio de ir só com a cara e a coragem pode acabar dando bastante dor-de-cabeça, não só para você como para quem estiver junto.

Ah, existe uma grande diferença entre passeio e trilha. O passeio é bem mais light, sem riscos para o carro, é mais família e não tem tanto pé no barro. Porque na trilha o bicho pega, tem que gostar de lama, não pode chegar com frescura (nem tênis branco e novinho). Mesmo sentado no banco do piloto, precisa descer e sujar os pezinhos se o companheiro atolar. Isso mesmo. Jipeiro sozinho na trilha é quando não tem amigo ou precisa despertar o Rambo enclausurado dentro dele.

Esse papo de “eu e o meu jipe” não adianta nada se passar desembestado pela trilha, der de cara com um atoleiro e resolver meter a machadinha na primeira árvore à frente. De nada adianta enfiar tocos de árvore para tentar passar: é pior. Simplesmente porque as rodas vão patinar e os seus pneus podem ir para o beleléu. Além do mais, estraga o caminho por onde os outros vão atravessar.

Chegou a vez do guincho. Você não vê a hora de estreá-lo. Sem pestanejar, corre para a primeira árvore. Errado. Utilize nossas amigas de clorofila apenas como último recurso. Jamais, em tempo algum, prenda o cabo do guincho diretamente em volta delas. Saiba que, além do perigo de rompê-lo, isso detona com as plantas, que podem morrer facilmente. Se for necessário, primeiro envolva uma cinta no tronco, usando as alças para prender o gancho.

Lembre-se que o ponto de ancoragem precisa ser firme, o que muitas vezes pode ser outro veículo, basta que esse esteja seguro (claro que um Toyota atolado não vai poder ser ancorado num Niva, pois o primeiro é bem mais pesado que o segundo – aí sim você pede ajuda para a árvore se não houver outra opção, mas com os devidos cuidados).
Outro detalhe: certifique-se que os ganchos e cabos estão bem presos antes de iniciar o desatolamento. Maneje o cabo com uma luva e nunca deixe sua mão de bobeira perto do guincho. Ou você pode acabar como o Capitão Gancho. Avise os amigos para não ficarem muito perto do cabo porque, no calor da ação, o gancho pode se desprender ou o cabo romper e o estrago vai ser muito feio.

Continuando pela trilha, pode parecer apologia de tia velha (mas nesse caso ela tem razão): não jogue lixo por onde passa. Não tem quem não fique puto da vida quando encontra latinhas, garrafas e outros senões largados pelo caminho. Enche o saco (dos dois jeitos) catar bagunça alheia. Afinal, não é assim que se agradece à Natureza pelo que ela nos oferece. Esse território não é nosso, estamos apenas de passagem.

Caro iniciante - é uma sacanagem chamar você assim pois todos nós começamos no 4X4 quando engatinhamos - seja bem-vindo às atividades fora-de-estrada.

Tenha em mente que, para se orgulhar de ser jipeiro, precisa prestar atenção nos detalhes aí em cima.

Até a próxima trilha!

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